Como
presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, secção de São Paulo, venho a
público, diante das insistentes críticas dirigidas ao advogado Márcio Thomaz
Bastos, em razão de sua atuação como defensor em casos de grande repercussão
nacional, mais uma vez salientar que o papel do advogado é obrigatório e
absolutamente indispensável para que se obtenha Justiça, além de que jamais se
pode confundir o advogado com seu cliente.
O
fato de o advogado Márcio Thomáz Bastos ter sido Ministro da Justiça, não lhe
impede de agora advogar livremente, sem qualquer restrição legal, aliás, o que
já ocorre com inúmeros outros colegas que ocuparam postos e cargos de destaque
na política nacional, também como Ministros da Justiça, Secretários de Estado
da Justiça, Secretários de Estado da Segurança Pública, dentre outros.
Diante
de julgamentos de crimes de grande repercussão, quando o público em geral não
admite ao acusado nem mesmo argumentos em sua defesa, imediatamente a opinião
pública antagoniza o advogado que, para cumprir bem sua função, precisa
enfrentar esse pré-julgamento sem temor, com total independência, apesar da
incompreensão.
A
história se repete mais uma vez. Foram centenas de vezes que, em nossas gestões
à frente da OAB SP, viemos à público defender colegas hostilizados por parte de
nossa sociedade, simplesmente porque patrocinaram causas antipáticas à opinião
pública ou à parcela da mídia. Na grande maioria modestos e humildes advogados
que sofreram a ira popular e o bombardeio de notícias que lhe censuravam o
comportamento profissional, na capital e na maioria das vezes pelo interior do
Estado.
O
exemplo mais recente desses casos em que interviemos, foi o da advogada Ana
Lucia Assad, que sofreu na carne a incompreensão e a cólera dirigida a seu
cliente, sendo confundida com este, além de violada em suas prerrogativas
profissionais. Nossa reação foi além das manifestações de solidariedade e
esclarecimento à sociedade sobre o papel da defesa, compreendendo também
desagravo público, assistência e a própria defesa da colega em juízo.
Como
bandeira maior de nossas gestões na OAB SP, a defesa intransigente das
prerrogativas profissionais dos advogados tem sido realizada diariamente por
milhares de colegas que voluntariamente amparam os advogados ofendidos ou
violados no exercício da profissão. Defender prerrogativas é defender
cidadania. Por isso é que lutamos para aprovação do nosso projeto que
criminaliza a violação às prerrogativas dos advogados.
Nesses
casos rumorosos, o que nem sempre é claro para a sociedade é que o advogado tem
a missão de buscar um julgamento justo no interesse de seu cliente, com base no
Direito e nas provas.
Por
mais grave que seja o crime imputado a alguém, o advogado tem o dever de
promover sua defesa. Rui Barbosa foi incisivo ao afirmar que ninguém é indigno
de defesa.
Tenho
sempre se lembrado de uma das referências históricas mais emblemáticas sobre a
importância da missão do advogado é encontrada na frase de Napoleão Bonaparte,
que dizia preferir cortar a língua dos advogados a permitir que eles a
utilizassem contra o governo. Esse tipo de pensamento demonstra que a Advocacia
confronta o autoritarismo e só prospera dentro do Estado Democrático de Direito.
O
papel social e institucional do advogado é imprescindível nos regimes
democráticos assegurando a todos os cidadãos a observância de seus direitos
constitucionais e legais. Quem já foi acusado de algum ilícito e sofreu
processo penal conhece a importância do trabalho da defesa, visando aclarar os
fatos, superar as arbitrariedades e fazer triunfar a Justiça.
O
advogado, insistimos, não pode ter sua figura confundida com a de seu cliente,
não deve ser hostilizado pela opinião pública e pelas autoridades policiais ou
judiciárias ou sofrer "linchamento moral" por parcela da mídia.
A
sua atuação acontece no âmbito do devido processo legal. Ele deve garantir a
ampla defesa e o contraditório ao acusado, observando o princípio da presunção
de inocência, até final decisão judicial. O advogado não busca a impunidade do
seu cliente, mas tem a obrigação de assegurar que lhe seja feita Justiça.
A
profissão de advogado foi constitucionalizada na Carta Magna de 1988,
reconhecendo o legislador a sua indispensabilidade à administração da Justiça e
a inviolabilidade do advogado por atos e manifestações no exercício
profissional.
Temos
reiterado à sociedade que o advogado é como o padre, que abomina o pecado, mas
ama o pecador. O advogado abomina o crime e deve amar sua missão de defender
aqueles que a ele recorrem para ter um julgamento justo.
Dessa
forma, a OAB SP mais uma vez vem a público, não só para prestar solidariedade
ao colega atacado, mas para esclarecer à sociedade sobre essa indispensável
missão, fazendo a Ordem a defesa pública da defesa, que acontece quer pelas
mãos do festejado advogado Márcio Thomáz Bastos ou pelo mais humilde dos
colegas, todos cumprindo papel da mesma relevância, com a mesma coragem e
dignidade, em prol da Justiça.
São
Paulo, 25 de maio de 2012
LUIZ
FLÁVIO BORGES D'URSO
Presidente
da OAB SP
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